Vivemos num mundo cada vez mais conectado, no qual quase 8 mil milhões de pessoas têm acesso à internet e a todo o universo a que esta dá acesso. E agora? O que vai acontecer quando todos estivermos ligados e conectados online
Plataformas: o que significa.
Falamos do termo plataforma, mas o que é que isso significa na realidade?
Plataforma é uma framework digital que permite ligações de muitos para muitos e que define as regras pelas quais os participantes interagem, mas para nós uma plataforma é muito mais do que um espaço que liga vendedores e compradores de serviços.
Inclui marketplaces em regime de SaaS, em que as plataformas combinam a componente de marketplace com workflows e com network; inclui redes de mercado como as redes sociais, onde as transações podem acontecer num regime de 360º; e inclui ainda muitos outros modelos, mais ou menos híbridos.
Em resumo, uma plataforma é um espaço de ligações de “muitos para muitos”, no qual o efeito de rede está embebido dentro do modelo.
Plataformas: como tudo começou.
Tudo começou há mais de 25 anos com o ebay. Durante este tempo, as plataformas foram evoluindo, desde simples listas para marketplaces básicos, até marketplaces geridos.
Tal como a maioria das tendências, houve uma adopção mais forte e rápida no mercado B2C que no mercado B2B.
Em B2C a disrupção atingiu, inclusive, alguns verticais como o turismo e o ramo alimentar (em especial as entregas). Em B2B a adopção tem sido mais lenta, porque existe maior complexidade em desintegrar a componente de intermediação, e digitalizar quando existe uma elevada fricção transaccional envolvida (seja por causa das grandes quantidades envolvidas na transação, seja por causa das fortes relações interpessoais envolvidas).
À data de hoje, se olharmos para as 10 maiores empresas do mundo por valor de mercado, podemos dizer que 80% delas podem ser consideradas plataformas que beneficiam de grandes efeitos de rede. Estamos a falar da Microsoft, Apple, Amazon, Alphabet, Alibaba, Facebook, Tencent & Visa.
Plataformas: um modelo de negócio poderoso.
Existem 3 razões para considerar as plataformas um modelo de negócio poderoso:
- Networking
- Graças aos seus elevados efeitos de networking, este torna-se um modelo de negócio altamente defensável, porque o seu propósito passa por os seus utilizadores participarem e interagirem na criação de valor
- Nos últimos 20 anos, 70% do valor em tecnologia tem vindo dos efeitos de network que são criados
- Escalabilidade
- As plataformas são algo altamente escalável, pois têm o potencial para um crescimento de capital eficiente.
- São facilitadores de transações e não os donos dos produtos ou serviços. Isto traduz-se em baixos custos de capital e maiores margens de lucro.
- A isto ainda podemos somar o potencial de crescimento viral, através de uma comunidade de utilizadores e do seu efeito de rede/network.
- Eficiência
- As plataformas não estão a desenvolver ou criar um modelo de negócio sozinhas, mas sim a dar resposta a falhas ou insuficiências em modelos de negócio atuais e a aumentar a eficiência dos mesmos.
- Numa perspectiva mais pura, as plataformas só capturam uma pequena parte do valor que estão na realidade a criar, porque estão a externalizar o efeito de rede, para criar um ecossistema diferenciador de fornecedores e negócios mais robustos, que podem ser criados em cima delas próprias.
Plataformas: como podem evoluir.
O potencial de novas plataformas continuarem a surgir é imenso:
- Novas plataformas podem criar ainda mais disrupção nos verticais atuais, pois:
- Podem criar um novo fornecedor e criar novos comportamentos e tendências;
- Podem encontrar e descobrir novas formas de servir um determinado vertical;
- Podem capitalizar novos canais de distribuição (em que por distribuição estamos a falar da intersecção de um novo dispositivo com um canal).
- Novas plataformas podem atacar, ainda mais, os novos verticais, pois:
- Existem muitas oportunidades em setores e indústrias muito regulados e com elevada complexidade, tais como saúde, educação, justiça e construção complexa.
- Assim como podem explorar novas oportunidades em B2B.
Desafios das plataformas
Apesar de as plataformas serem um modelo de negócio poderoso e com inúmeros benefícios, também existem desafios na sua implementação e adesão.
Podemos dividir estes desafios em 2 tipos: Desafios de nível comercial e desafios de nível técnico.
Desafio comercial:
Em termos de desafio comercial, quem aspira a ter um modelo de negócio assente em plataformas, a primeira pergunta que deve colocar é se a plataforma é um modelo estrategicamente viável para o negócio que se está a pensar lançar.
É igualmente importante fazer uma avaliação da indústria que a plataforma vai suportar – perceber se o mercado é muito fragmentado, se existem muitos concorrentes no mercado, mas sem uma plataforma dominante que faça uma gestão e interligação, entre outros, estes são alguns dos pontos a analisar.
Desafio técnico:
Falando agora dos desafios técnicos, não existe uma tecnologia que se possa dizer que é o principal motor de plataformas como modelo de negócio. Tipicamente as plataformas são construídas em cima de tecnologias web standard, mas existem algumas capacidades que são essenciais, nomeadamente:
- Dados
- A liderar estas capacidades essenciais, temos os Dados. Grande parte do valor das plataformas vem da capacidade de recolher, distribuir e analisar os dados, criando assim um ecossistema de dados sobre o mercado e os consumidores que são fundamentais para suportar o processo de decisão.
- Práticas de desenvolvimento de software
- A segunda capacidade tem a ver com a necessidade de as plataformas serem fiáveis, seguras e evoluírem de acordo com as necessidades do mercado. Fazer isto a uma escala global, exige práticas de desenvolvimento de software que sejam inovadoras e ágeis.
- Blockchain
- Apesar de não haver uma definição única de tecnologia para plataformas, há quem preveja que a tecnologia Blockchain, vai mudar a economia do modelo de negócio. Uma das funções do gestor da plataforma é fomentar a confiança entre participantes no mercado, através de sistemas de rating ou similares, garantindo as transações. Algumas dessas funções podem vir a ser executadas recorrendo à tecnologia Blockchain, tornando as transações transparentes e verificadas colectivamente.
Plataformas: um conceito que veio para ficar.
As plataformas vieram para ficar e para criar novas oportunidades, novos mercados e novas necessidades que os consumidores ainda não sabem que têm.
Existe um grande número de startups a explorar o conceito de plataforma e fazer dele o seu modelo de negócio. Isto pode inspirar empresas mais tradicionais a enfrentar estes desafios e a dar início ao seu caminho na indústria das plataformas. Mas muitas destas empresas correm um elevado risco de perder a oportunidade, devido à falta de liderança digital. Garantir que a liderança tem o mesmo entendimento e uma visão unificada em torno das oportunidades de uma plataforma vai ajudar a acelerar o progresso da empresa no curto prazo e quem sabe ditar a sua sobrevivência ou não no médio prazo.